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Crianças condicionais: Quando deve o seu filho transitar para o 1.º ciclo?

Redação
publicado há 6 anos
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As dúvidas dos pais das chamadas «crianças condicionais» são muitas. A decisão da transição para o 1.º ciclo pode influenciar todo o percurso académico da criança.

São consideradas «condicionais» as crianças que em setembro ainda não cumpriram seis anos, mas cujo aniversário se assinala antes do dia 31 de dezembro do mesmo ano.

O prazo para a matrícula para a primária termina a 15 de junho. «É precisamente nesta fase do ano que muito pais se questionam sobre as competências dos filhos para ingressar de forma normal do 1.º ano de escolaridade», explica ao site Crescer, o pediatra Henrique Soares.

Para o especialista, há casos que merecem maior atenção, como as crianças com «prematuridade extrema, atrasos de desenvolvimento por patologia conhecida ou, simplesmente, imaturidade neuro cognitiva (por exemplo, pelo mês do seu aniversário)».

Segundo explica, estes casos «remetem para a necessidade de uma avaliação individual». «É muito importante, nas crianças com patologia, uma boa coordenação entre Pediatria do Desenvolvimento, Psicologia, os vários terapeutas e todo o ensino especial que se impõe para estes casos. Já nas crianças com imaturidade neuro cognitiva, o conhecimento prévio dos educadores, e também uma avaliação formal por Psicologia, são cruciais para melhor conhecer e compreender as competências específicas das mesmas», explica o pediatra.

Henrique Soares sublinha ainda o «papel fundamental da psicologia e da equipa educativa para aprofundar e conhecer todas as dimensões da criança numa fase muito importante da sua vida».

Fernando Alves, de 44 anos, foi uma criança condicional e é hoje pai de uma menina que também só completa seis anos em dezembro. «As matrículas estão a decorrer e ainda não decidimos. Estamos a ficar angustiados, mas estamos à espera de um relatório da psicóloga», explica-nos. Apesar de ter tido, em criança, uma «experiência positiva e de sucesso escolar», Fernando diz saber que com a filha «poderá não ser igual».

A tese é também defendida pela psicóloga mestre em Psicologia da Educação Regina Costa, do Infantário Morangos Senhora da Hora. «Cada criança é uma criança. Deve analisar-se caso a caso e não tomar decisões sem uma avaliação séria».

Desse estudo fazem parte uma avaliação cognitiva e uma socio-emocional. «A avaliação cognitiva é quantificável e, por isso, mais fácil de fazer. Aplicamos uma prova de diagnóstico pré-escolar, onde avaliamos linguagem, motricidade fina, competências visuo-percetivas», explica. Trata-se de um teste «aparente» que as crianças percecionam como «um jogo lúdico-didático».

É ainda feita a avaliação das competências socio-emocionais, onde se registam parâmetros como, por exemplo, a concentração ou a autorregulação (o saber estar).

Segundo Regina Duarte, as duas avaliações têm peso equivalente. «As crianças têm de cumprir os requisitos cognitivos e socio-emocionais para ingressar no 1.º ciclo.»

Em termos práticos, até a postura da criança na cadeira é analisada. «A forma como se senta e consegue manter-se sentada por um período longo; a grafia das letras; o recorte; a forma como pega no lápis; a compreensão das histórias; o raciocínio lógico; a estruturação do discurso ou a forma como reage quando interrogada são alguns dos muitos indicadores que se devem avaliar», explica a educadora Vânia Faria, do infantário Morangos Senhora da Hora.

Juliana Oliveira, educadora de infância e coordenadora da mesma instituição, frisa também que «as metas curriculares do pré-escolar são muito curtas».

«Aqui avaliamos mais do que aquilo que é pedido pelo Ministério da Educação, porque acreditamos que há outras competências e conteúdos importantes na decisão da transição para o 1.º Ciclo», explica.

Para as duas responsáveis, um erro na avaliação pode «condicionar todo um percurso académico». «Quando uma criança ingressa no 1º ciclo sem estar preparada para dar esse salto, pode entrar em negação e, até, regredir. O mesmo acontece quando a criança fica na pré, estando preparada para avançar. Neste caso, desmotiva e tem de lidar com muita frustração», afirma Juliana Oliveira.

O que fazer em caso de dúvida?

Em caso de dúvida, a criança condicional deve ficar no pré-escolar. É essa a convicção da psicóloga Regina Costa. «Trata-se de uma opinião pessoal e não científica. Mas acredito que esperar é a melhor solução quando existe dúvida. Só temos na vida seis anos para brincar. A partir daí, a brincadeira passa para segundo plano. Acredito que é a brincar que se apreendem competências para se ser um adulto saudável no futuro», justifica.

As educadoras Juliana Oliveira e Vânia Faria partilham a mesma opinião pelo «bem-estar psicológico e emocional». «Não queremos que as crianças vejam a escola como algo negativo, o que pode acontecer se forem forçadas sem terem as ferramentas necessárias para o fazer», concluem.

O que diz a legislação

A legislação portuguesa menciona que a matrícula no 1.º ano (em escolas públicas) é apenas obrigatória para crianças com seis anos completos a 15 de setembro.

Contudo, em termos legislativos, o Ministério da Educação admite a possibilidade de se ingressar no 1.º ciclo com cinco anos, mas apenas se isso não implicar constituição de nova turma e se houver vagas na escola pretendida pelos pais. No ensino privado, é aos pais que pretendam inscrever os filhos que cabe a decisão final.

Texto: Cynthia Valente | WIN Porto; Fotos: João Ribeiro

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