Saúde

Como se explica a uma criança o que é a doença de Alzheimer?

Andreia Costinha de Miranda
publicado há 5 anos
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A doença de Alzheimer está presente no dia a dia de muitas famílias e se para um adulto já não é fácil lidar com esta realidade, para as crianças também não é uma situação, de todo, indiferente.

Por isso mesmo o site Crescer conversou com a psicóloga clínica Ana Margarida Cavaleiro,  que deu a conhecer  como podemos explicar aos mais pequenos o que é o Alzheimer e demência, mas também falou de outros aspetos relevantes em relação a este tema.

Site Crescer – Como se explica a uma criança o que é a doença de Alzheimer?

Dra. Ana Margarida Cavaleiro – Pode-se explicar que a doença de Alzheimer afeta sobretudo a memória, mas que também pode causar desorientação espacial e temporal e é por isso que os seus avós às vezes não se recordam do nome dos filhos ou dos netos, se perdem dentro da sua própria casa, ou não se recordam onde estão guardados os copos ou as meias, ou se esqueçam como é que se apertam os botões. Assim, as crianças ficam a perceber que os avós se esquecem destas coisas porque estão doentes e não porque querem ou fazem de propósito. A Alzheimer Portugal editou o livro “O pequeno elefante Memo”, para ajudar a explicar às crianças o que é a doença de Alzheimer, de uma forma simples e motivadora. Pretende-se através da história do elefante Memo e da sua avó Kelembra, mostrar os sintomas desta patologia e de que forma as crianças podem ajudar os seus avós. A partir desta história é possível referir que os problemas de memória são o principal sintoma da doença de Alzheimer, mas que a desorientação no espaço e no tempo, também são sintomas.

2 – Como é que os pais podem dar a conhecer às crianças que os avós (ou outra relação familiar) vão acabar por não se lembrar de quem eles são?

Com este livro, poderá ser efetuada uma contextualização da problemática das Demências, possibilitante que sejam depois explicados os sintomas mais pormenorizadamente, mostrando aos mais pequenos que os comportamentos diferentes que os avós têm são fruto de uma doença e que o seu papel junto dos avós é muito importante. É fundamental que as crianças percebam que apesar de os avós terem ações diferentes daquelas que eram habituais e poderem fazer coisas que por vezes parecem um pouco estranhas, a sua ajuda e orientação é fundamental para que os avós se sintam aceites e integrados na família.

3 – Que tipo de interação as crianças devem ter com os familiares doentes com demência/Alzheimer? Como as crianças devem lidar com eles?

Através do carinho, da compreensão, de sorrisos e boa disposição, as crianças podem transmitir sentimentos de felicidade, segurança e amor aos seus avós. Por outro lado, podem também ajudar na realização de tarefas básicas do dia-a-dia, mas que para as pessoas com demência podem ser percecionadas como tarefas complicadas. Este apoio, para além de reforçar os laços entre avós e netos, permite às pessoas com demência sentirem-se apoiadas e acompanhadas por aqueles que lhes são mais queridos.

4 – Cuidar alguém com demência é fonte de muito stress e por vezes os cuidadores acabam por ficar com menos paciência para as crianças, que podem assistir a vários episódios “estranhos”. Que conselhos dar às crianças, para que percebam a melhor também a situação dos pais?

Também as crianças devem ter “paciência” para os seus pais e para os seus avós com demência. Para além de se falar com os mais novos sobre a patologia, deve-se também falar sobre o impacto que esta doença tem no seio familiar. Falar sobre o cansaço que os cuidadores vão começar a sentir, do stress, da falta de tempo para si e para quem os rodeia, da necessidade de alterar rotinas e hábitos, entre outros fatores. Desta forma, é possível,não só fazer com que as crianças façam parte deste processo familiar, como também é possível gerir expectativas.

5 – O que é que as crianças podem também fazer para facilitar a vida da pessoa com Alzheimer/Demência?

Existem inúmeras atividades que as crianças podem fazer com as pessoas com demência. Não têm de ser atividades complexas. Muitas vezes, a simples presença, o simples sorriso de uma criança, traz muita alegria e felicidade às pessoas com demência. As crianças podem ajudar na realização de tarefas diárias, como colocar a mesa, vestir um casaco, lerem para os avós, orientá-los em casa quando não se recordam do sítio das coisas, ou onde são as diversas divisões. No entanto, a preparação das crianças é essencial, para que, ao fazerem estas atividades percebam o que devem ser elas a fazer e o que devem estimular para que sejam as pessoas com demência a realizar.

6 – Na época natalícia, como facilitar este processo todo para que a confusão da quadra festiva não deixe as crianças serem afetadas pela doença do familiar?

É importante que as pessoas com demência participem na preparação da quadra natalícia. No embrulho de presentes, na decoração da casa e da árvores de natal, na confeção das refeições, e até mesmo na receção dos convidados. Em todas estas atividades as crianças podem também participar e ajudar as pessoas com demência. É de salientar que se devem evitar ambientes barulhentos, e para isso a preparação das crianças é essencial, com vista a que as brincadeiras, correrias e risadas próprias dos mais novos, não criem ansiedade e confusão junto das pessoas com demência. Um ambiente controlado favorece o bem estar da pessoa com demência e a sua participação nos festejos natalícios.

 

Leia também: Conselhos para os cuidadores de pessoas com doença de Alzheimer e outras demências

 

 

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