Ensinar os bebés a comunicarem antes destes começarem a falar. É este o desafio do projeto Baby Signs, que tem suscitado cada vez mais a curiosidade dos pais de norte a sul do país. O site Crescer entrevistou a sua mentora.
Nasceu nos EUA nos anos 80 e chegou a Portugal em 2009. A missão consiste em levar a magia dos gestos às famílias portuguesas e, assim, ajudar os bebés a crescerem mais confiantes e felizes!
Para quem nunca ouviu falar do Baby Signs, Sabla D’Oliveira, diretora e instrutora do projeto, explica. «Resumidamente é um programa de comunicação com recurso a gestos para ajudar os bebés que ainda não falam a expressarem o que querem, veem e sentem. É só imaginar uma criança de um ano a indicar que quer comer uma maçã, ou que quer andar no baloiço, ou que está a pensar no papá, sem ainda ter a capacidade de falar, usando gestos simples e específicos para o efeito», começa por contar ao site Crescer.
A representação internacional, segundo explica, chegou em fevereiro de 2017. Porém, já se realizavam workshops para pais e profissionais pelo primeiro grupo de instrutoras que se formaram pela antiga direção em Portugal, desde 2008. E o feedback não podia ser melhor. «Com a representação, está a ser possível realizar todas as traduções dos materiais, o que tornou o programa bem mais atraente pelas famílias portuguesas. Cada vez mais famílias conhecem e aderem ao programa. O feedback está a ser maravilhoso. Os pais estão surpreendidos com o quanto os seus bebés lhes comunicam coisas que de outra forma não saberiam. Temos cada vez mais vídeos de bebés portugueses a fazerem gestos e estamos a adaptar cada vez mais à nossa cultura», avança aquela que se sente orgulhosa por ter vários workshops para pais com inscrições esgotadas.
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«O nosso objetivo é também adaptar o vocabulário do programa que tem na sua base a língua gestual americana, para a língua gestual portuguesa, assim o programa será ainda mais português. Neste momento usamos os gestos usados internacionalmente pelas famílias de vários pontos do planeta.»
Sabla tornou-se instrutora em 2009, no momento em que conheceu o programa. «Percebi de imediato o seu potencial para o desenvolvimento infantil. Na altura já era licenciada em Psicologia e muito curiosa com estas questões. Mas a minha paixão e entusiasmo aumentou exponencialmente quando fui mãe em 2013 e pude sentir na pele os benefícios de ter um bebé e de o perceber sempre que ele usava gestos (desde os nove meses de idade)», recorda.
Com 10 meses, o filho da instrutora já usava sete gestos e aos 12 meses já tinha 30 gestos no seu vocabulário. Chegou aos 47 gestos no total. «Nós tínhamos conversas surreais, quem visse de fora e não conhecesse o programa devia achar-me “maluquinha”! Eu compreendia tudo o que o meu filho me comunicava, ele era um bebé tranquilo e confiante. Aos 17 meses, o meu filho já falava imenso e os gestos foram sendo esquecidos aos poucos. Sentir isto e não partilhar com mais pais seria impensável! Agora que ele vai ser o mano mais velho, vamos rever os gestos com ele, para que a ligação com o novo bebé também seja muito especial», conta.
O projeto começou «bem pequeno» e Sabla recorda essa fase com carinho. «Eu era a única instrutora ativa em Portugal, viajava pelo país a convite de instituições e pais, e na altura os materiais eram todos em inglês. Um dia percebi que para Portugal ter ainda mais sucesso com o Programa Baby Signs teríamos de adaptar para a nossa cultura e língua e não podia ser só eu a dar os workshops. Por isso, em 2017, decidi avançar com a representação internacional e, assim, poder formar instrutores que pudessem fazer o mesmo do que eu pelo país fora e assim espalhar a “magia dos gestos” como lhe costumo chamar.»
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Enquanto mãe, esta foi também uma decisão importante. «Queria estar num projeto que me permitisse estar com o meu filho e ser eu a cuidar dele…», diz.
Os principais benefícios em ensinar gestos aos bebés
O benefício imediato é a redução das frustrações de os bebés quererem algo e não conseguirem dizer-nos, segundo refere Sabla D’Oliveira. «As pequenas choraminguices devido à fome, à sede, ou porque querem o seu boneco ou outra coisa qualquer, deixam de ser um jogo de adivinha. Outro dos grandes benefícios comprovado, não só cientificamente mas também pelas famílias, é o desenvolvimento da linguagem. Bebés que usam o programa falam mais cedo, têm um vocabulário mais rico e formam frases mais cedo. Eles mostram a compreensão das palavras mais cedo do que o esperado, mostram mais intenção em comunicar e começam mesmo a tentar falar à medida que vão fazendo gestos. O facto de serem constantemente compreendidos e reforçados, faz com que tenham imenso prazer em comunicar. Apesar de estarmos a falar de gestos, o centro do programa é a relação com os outros e a comunicação. Uma criança que gosta de comunicar vai ter prazer em falar logo que esteja preparada para fazê-lo.»
O aumento da auto-confiança e do vínculo com os adultos e a promoção do desenvolvimento emocional são outros dos benefícios. «Os bebés tornam-se capazes de indicar que estão tristes, felizes, zangados ou assustados, o que é o início do trabalho da inteligência emocional, isto antes dos dois anos de idade!»
Quantos gestos consegue um bebé aprender?
Esta é a questão que muitos pais fazem. Afinal, quantos gestos pode uma criança adquirir? Sabla revela uma história curiosa sobre um menino que acompanhou. «Conheço um bebé português que adorava aprender novos gestos e aplicava-os na altura certa. Ultrapassou os 100 gestos antes dos 16 meses, altura em que começou a falar logo com um vocabulário muito rico. Não há um limite de quantidade de gestos para a capacidade da criança, há, sim, interesses variáveis, e quem está por perto deve ficar atento às oportunidades. Os bebés apenas fazem gestos até começarem a falar, por isso têm um tempo de aprendizagem de gestos. É muito importante ter em mente que cada criança é única na sua aprendizagem. Podem muito bem estar felizes com 10 ou 100 gestos», afirma.
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«Há bebés que começam a fazer gestos aos cinco e seis meses e outros aos 12 ou 14 meses, vai depender do foco na competência que, para cada bebé é mais importante adquirir, e a sua motivação para fazê-lo, em determinada altura. Os bebés fisicamente podem ter a capacidade de fazer gestos por volta dos oito ou nove meses, pela mesma altura que começam a fazer o “adeus”, mas mesmo aplicando a metodologia aprendida nos workshops, são eles que decidem quando precisam e querem comunicar.»
Como funcionam os workshops
Existem dois workshops centrais e outros mais temáticos, tal como Sabla explica.
Para pais:
O workshop para pais (e famílias) serve para cada família usar a metodologia em casa e poder usufruir dos benefícios com o seu bebé. Tem uma duração de 90 minutos, podem ser adquiridos mais materiais de apoio em português, as famílias têm acesso a mais gestos e têm o apoio do instrutor sempre que hajam dúvidas ao longo das várias fases do programa.
Para educadores e outros profissionais:
O workshop para profissionais de primeira infância é especialmente dirigido a quem trabalha diretamente com grupos de crianças, como acontece em berçários e creches. No entanto também podem participar terapeutas da fala, enfermeiros, psicólogos e outros profissionais interessados na área. Tem um mínimo de três horas de formação.
Para pais e bebés:
Há ainda aulas temáticas para pais e bebés, em que em cada aula de 45 minutos todos aprendem cerca de seis gestos dentro de um tema do contexto do bebé, através de canções, brincadeiras e do conhecido urso Beebo.
«Temos ainda uma formação específica para as equipas de creches, é o que chamamos de Certificação de Instituições infantis no Programa Baby Signs. Em que toda a equipa fica preparada para usar o programa no seu dia-a-dia. E neste caso, os benefícios multiplicam-se! Pois os bebés beneficiam em casa, na creche e em grupo. Já temos relatos de bebés a comunicarem uns com os outros usando gestos. O que diminui também comportamentos agressivos que por vezes ocorrem nesta faixa etária. Neste momento, em Portugal já certificamos 21 instituições infantis.»
Para creches e berçários também há sessões semanais de 30 minutos, realizado por uma instrutora, com vários temas e gestos, junto aos grupos de bebés e crianças até aos dois anos. «Nestas sessões, realizadas com pequenos grupos e seus educadores ajudamos os bebés a usufruírem dos gestos, ajudamos os profissionais a implementarem o programa na instituição e ajudamos a fazer a ponte com as famílias.»