Onde colocar o bebé quando a licença de maternidade termina é o dilema de todos os pais, mas a psicóloga pediátrica Clementina Almeida, do projeto ForBabies, ajuda-o a tomar a melhor decisão.
Deixar o bebé nas mãos de outro é algo difícil para qualquer mãe/pai, separar-se deles aos seis meses por tantas horas do dia, ainda mais. Mesmo se esse outro é um membro da família. E torna-se ainda mais impactante, porque estamos a falar de muitas horas durante um dia ao cuidado de outro que não os seus pais, e porque estamos a falar nos primeiros anos de vida que são fundamentais para o desenvolvimento cerebral do bebé, com impacto na sua vida futura.
Como pais temos o cuidado de escolher quem participa na vida dos nossos filhos. Durante a primeira infância, as crianças são inundadas de novas experiências que afetam o seu desenvolvimento cerebral, por isso os primeiros três anos de vida de uma criança oferecem aos pais uma oportunidade incrível e única (e uma responsabilidade acrescida) para moldar o crescimento do seu filho e formar hábitos saudáveis que durarão uma vida inteira. Daí que este estado de vulnerabilidade do cérebro exige uma maior qualidade no tipo de relações que se estabelece com o bebé nomeadamente da parte de quem cuida dele: sejam os avós, uma ama ou a educadora.
O que procurar numa ama, avó ou educadora?
Independentemente da escolha e dos prós e contras de cada uma das opções, o importante é a qualidade do cuidado prestado, não a quantidade de brinquedos sofisticados. Por isso, a relação com alguém que seja o cuidador principal, que desenvolva uma relação de um para um, sensitivo e responsivo às necessidades do bebé no aqui e agora, se torna o mais relevante.
Quando falamos de necessidades, não nos referimos só à muda da fralda, ao biberão, mas sim às respostas a toda a comunicação que o bebé vai fazendo, muitas vezes só através do choro. Muito colo, muito afeto, e muito mimo são ingredientes essenciais para desenvolver esta relação de vinculação a alguém secundário e assim criar as bases seguras de todo o desenvolvimento cerebral e os alicerces de todas as outras capacidades cognitivas essenciais a uma aprendizagem de sucesso futura.
Porque a forma como as crianças são tratadas por adultos cuidadores molda o seu desenvolvimento de forma importante, é crucial encontrar alguém que compreenda e estimule a aprendizagem dos bebés através dos momentos diários de partilha. Por exemplo, a pessoa conversa com o seu bebé durante uma muda de fralda, conforta-a se ele estiver a protestar? Ou a muda da fralda é realizada em silêncio, com pouca atenção dada à experiência do bebé?
Alguém que abrace, que embale, dê colo e procure o contato com os olhos, que responda aos sorrisos do bebé e habilidades e interesses emergentes, que encontre maneiras de aproveitar as “gracinhas do bebé” para o ajudar a desenvolver novas competências, respeitando a individualidade e ritmos único de cada um.
Dito isto, provavelmente, para quem tem possibilidade, escolher os avós pode ser o melhor para o bebé! Ser neto é muito diferente de ser apenas mais uma boca para alimentar ou uma fralda para mudar e podemos ter a certeza que esse alguém está genuinamente interessado na saúde, bem-estar e felicidade do bebé. Nenhuma outra opção, nos dará tanta paz de espírito!
Outra vantagem dos avós, é ter o melhor rácio possível, um cuidador para um bebé, mesmo que os avós tenham a seu cargo mais netos, é provável que a relação seja muito menor do que numa creche. Não esquecendo a possibilidade de não ficar tantas vezes doente, nos seus primeiros anos de vida.
Mas há vantagens para os avós também, é que cuidar dos netos é uma atividade exigente e requer a ativação de muitos processos e funções mentais em simultâneo, por isso está provado que, cuidar dos netos, previne a deterioração cognitiva e o aparecimento de Alzheimer e de demências futuras.
O que procurar num berçário ou creche?
Para que os pais possam ter a certeza da sua melhor escolha em relação às condições de um berçário ou creche para o seu bebé é necessário observar com atenção algumas das que maior impacto terão.
A importância de haver um número reduzido de bebés por grupo e rácio adequado entre bebés e adulto responsável. Os bebés e crianças pequenas recebem mais atenção individual e carinho quando estão inseridos em grupos pequenos e quando cada cuidador é responsável por menos bebés. Não mais de seis a oito bebés dos 0-12, 6 a 10 dos 12-24, ou 16 a 20 dos 24 aos 36 meses, sempre com, no mínimo, dois a três adultos em cada grupo.
É importante que o local tenha baixa rotação de pessoal. No sentido de evitar a ansiedade gerada pela alteração constante de figuras tão importantes na vida do bebé. O ideal será um local que tenha escalas e horários que permitam aos bebés, estarem sempre com o mesmo cuidador.
Que os pais sejam bem-vindos na sala quando quiserem, para ajudar a garantir a confiança, comunicação e coerência entre o ambiente em casa e na creche, através daparticipação ativa dos pais.
Outro aspeto importante é a Formação acerca do desenvolvimento do bebé e da criança pequena, que é frequentemente associada a creches de qualidade superior. Não só das educadoras, mas também dos auxiliares, que muitas vezes passam mais tempo com os bebés.
Por último, mas não menos importante, será considerar, o número de horas que o bebé ou criança pequena passa na creche, quanto maior o número de horas passado na creche (o recomendado internacionalmente para bebés com menos de um ano seria de 10 horas por semana), maior será o impacto negativo nas competências socio-emocionais do bebé e como consequência mais comportamentos de agressividade iremos observar.
Muitas vezes a creche pode ser stressante para um bebé/criança, porquê?
Por vezes a creche pode ter um impacto negativo no cérebro do bebé, isto deve-se ao facto dos níveis de cortisol dos bebés/crianças que as frequentam, mesmo as de elevada qualidade, serem anormalmente mais elevados ao longo do dia, e mais elevados ainda, quanto mais horas por dia a criança passa na creche. Este aumento está associado à qualidade de cuidado proporcionada, ou seja, pelo facto de muitas vezes não existir a tal relação de um para um com o bebé.
O cortisol é a substância que o cérebro segrega, no início do dia para nos dar mais atividade, tendendo a ser mais elevado de manhã e a diminuir ao longo do dia. É também a mesma substância segregada pelo cérebro, em situações de perigo, de stress, de medo e que nos permite ser mais rápidos numa situação de fuga ou de ataque, a esse perigo. Para um bebé o momento de transição do colo da mãe/pai para os braços de uma auxiliar ou educadora, e o facto de deixar de estar com os pais tantas horas ao longo do dia, pode ser altamente stressante.
No dia-a-dia estes bebés e crianças pequenas, apresentam mais problemas comportamentais, nomeadamente mais agressividade nos meninos e mais ansiedade nas meninas, mais medos e maiores dificuldades nos padrões de sono noturnos, mas as consequências vão ficar para toda a vida, assistindo-se a uma menor resistência às infeções e maior probabilidade de doença cardíaca na idade adulta.
De facto, não existem soluções perfeitas mas uma coisa é certa devemos todos contribuir para que os bebés tenham as melhores oportunidades desde cedo, e lutar por ofertas cada vez de maior qualidade para estes pequeninos cidadãos!
Texto: Psicóloga pediátrica Clementina Almeida, mentora do projeto ForBabies, Especialistas em Bebés