Saúde

Portugal AVC: A associação que tem como presidente um sobrevivente

Filipa Rosa
publicado há 5 anos
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Sobreviventes. É desta forma que são considerados aqueles que sofreram um Acidente Vascular Cerebral (AVC), a principal causa de morte em Portugal. Por hora, três portugueses sofrem um AVC. Destes, um não irá sobreviver e, pelo menos, outro ficará com sequelas incapacitantes. De acordo com a Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral, Portugal é, na Europa Ocidental, o país com a taxa de mortalidade mais elevada, sobretudo na população com menos de 65 anos de idade.

António Conceição tinha apenas 41 anos quando sofreu um AVC, que lhe deixou graves sequelas. Ao site Crescer, o bancário recorda, após 10 anos, o episódio mais marcante da sua vida e como surgiu a ideia de criar a associação Portugal AVC, que ajuda sobreviventes e as suas famílias.

«Em 2008, aos 41 anos, estava a trabalhar. Subitamente, senti que algo não estava bem… Tive logo os três sinais de AVC mais comuns: falta de força num dos lados do corpo, desvio da face (‘boca ao lado’) e dificuldade em articular palavras. Bastaria um destes para ativar de imediato o 112, e, felizmente os meus colegas de trabalho fizeram-no logo, permitindo-me ter assistência hospitalar rápida. Passo fundamental para minorar as eventuais sequelas. Só que, no meu caso, naquela mesma noite, o que era um entupimento de uma artéria cerebral (AVC Isquémico), que até se crê que terá sido possível desobstruir, transformou-se numa hemorragia cerebral bastante extensa (AVC Hemorrágico)», recorda ao site Crescer.

O facto de António ser praticante de desporto regularmente, não fumar e procurar ter algum cuidado com a alimentação não faria prever este cenário. «Se bem que tinha algum excesso de peso e o colesterol um pouco elevado… e o stress ‘normal’ da atividade profissional. Mas não tinha antecedentes familiares, pelo que eu nem sabia bem o que era um AVC…», diz-nos.

Alguma vez temeu pela vida? «As primeiras horas, os primeiros dias, vivi-os um pouco atordoado. E com a consciência de que seria certamente uma situação grave. Obviamente, não me foi dito, mas sei agora, também pela minha família, que estive em risco de vida», confessa.

Apesar da gravidade do AVC e das sequelas que deixou, António consegue fazer a sua vida normal hoje em dia. «O meu AVC foi bastante grave, porque atingiu, de maneira bastante extensa, áreas importantes do cérebro. Deixou-me totalmente paralisado do lado direito do corpo, com a cara ao lado, e com muita dificuldade em me expressar nas diversas formas (quer falada, quer escrita)», recorda aquele que nunca desistiu de lutar. «O esforço aplicado na recuperação, resultou em muito claras melhorias. Apesar de, ainda hoje, ter a mobilidade algo reduzida, estar muito condicionado na utilização do braço direito, e sentir ainda pequenas dificuldades na fala.»

O bancário sugere alguns cuidados a ter para tentar evitar este problema, que tem afetado tanta gente. «Há alguns conselhos básicos, que todos devemos seguir: escolher uma alimentação pobre em gorduras e sal, rica em vegetais; evitar o peso excessivo; praticar atividade física de forma regular; controlar a tensão arterial; não fumar. Além, é claro, de fazer-se consultar regularmente pelo seu médico, para evitar e/ou acompanhar eventuais factores de risco. Com estes cuidados básicos, as hipóteses de ser vítima de um AVC diminuem consideravelmente», alerta.

António confessa que o episódio marcante da sua vida mudou a sua perspetiva enquanto ser humano. Valoriza ainda mais a vida e a sua família. «É claro que há aspetos da vida que passaram a ser diferentes. Inclusive, no meu caso, houve que fazer adaptações a diferentes facetas da vida pessoal, social e profissional. Mas também, e valorizo muito isso, passei a dar muito mais valor ao que é verdadeiramente importante na vida: as pessoas, a família, e que não é assim tão importante aquilo que é efémero e material. E a viver um dia de cada vez.»

Depois do AVC nasce a associação Portugal AVC

São muitos aqueles que resistem a um AVC, mas ficam as sequelas. Para ajudar quem mais precisa, nasceu uma associação de apoio a sobreviventes de AVC. António Conceição é o presidente.

A Portugal AVC – União de Sobreviventes, Familiares e Amigos é uma entidade associativa, constituída principalmente por sobreviventes de AVC, mas também familiares/cuidadores e profissionais de saúde, que tem como principais objetivos (para além de contribuir para a prevenção), a ajuda mútua, a informação acessível, e ser uma voz presente dos próprios sobreviventes nos diversos níveis.

«Sei que, mesmo a minha reabilitação sendo um sucesso parcial, fui um ‘privilegiado’: tive e tenho oportunidades e hipóteses de reabilitação, e um apoio, antes de mais da família, que muitos não têm. Por isso, participei na criação da Portugal AVC – União de Sobreviventes, Familiares e Amigos. Estamos presentes já de norte a sul do país, e utilizamos também a Internet (www.portugalavc.pt), o Facebook, o e-mail ([email protected]) e outras formas de comunicação. E queremos, na medida do possível, dar sempre um contributo positivo. É muito importante que os sobreviventes e famílias olhem, não para aquilo que eventualmente ‘perderam’, mas para o muito que têm e podem dar!»

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