Histórias Online

Autismo: «Sabia que eras diferente, mas fechava os olhos e acreditava que tinhas o feitio da mãe»

Histórias Online
publicado há 5 anos
0
Share on FacebookTweet about this on TwitterShare on LinkedIn

Disseram-me que tinhas mau feitio, que eras igual à mãe. Que bom, era sinal que sabias o que querias…

Inteligente sem gostar de confusões, preferias fazer sinais e sons em vez de formares palavras. Sabia que eras diferente, mas fechava os olhos e acreditava que tinhas o feitio da mãe. 

Mas o feitio tornou-se agressivo, doloroso a cada frustração, a cada contrariedade. As marcas começaram a aparecer nos nossos corpos… A tua revolta refletia-se na agressão contra ti e contra mim. Doía ver-te fazer birras e magoares-te, aparentemente sem razão. Doía quando me batias e mordias, mas a dor não era física. Doía-me a alma porque não sabia o que se passava contigo mas continuava a amar-te, mais do que nunca.

Aos oito anos veio finalmente o diagnóstico, preto no branco, e apesar de desconfiar que eras especial como todas as crianças doeu ainda mais. E agora?! Sabes?! Agora é um dia a seguir ao outro. Uma tentativa a seguir à outra para perceber o que funciona contigo e fazer os possíveis para seres feliz. É importante que o sejas.

Não importa se não consegues expressar o que sentes, não importa se não consegues organizar o pensamento para me dizeres o que queres ou o que fizeste no teu dia. Não interessa se o teu rosto não é tão expressivo como os demais, porque os teus abraços e beijinhos valem mais do que o maior diamante.

És uma criança num mundo cruel e devia haver mais como tu, que não sabem o que é a ironia, que são sinceros e só falam quando é preciso, mas que abraçam muito como se esse abraço curasse tudo.

Ontem foi um final de dia menos bom e depois de mais uma crise choraste, pediste desculpa, abraçaste e hoje acordaste para o novo dia como se nada tivesse acontecido.

Dizem-me que o teu autismo é ligeiro. Pode ser, de acordo com as escalas estabelecidas por pessoas que não conheço. Só eu sei o quão ligeiro é o teu autismo e para mim não existe uma escala.

És como és e amo-te assim, mais do que possas imaginar.

Texto: Elisabete Nunes, mãe de Ricardo, de 11 anos

Siga a Crescer no Instagram

Share on FacebookTweet about this on TwitterShare on LinkedIn

Artigos relacionados

Últimas

Botão calendário

Agenda

Consultar agenda