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«As vergonhas que eles nos fazem passar»

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publicado há 6 anos
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Quantas vezes não assistimos àquela criança que faz uma birra no meio do restaurante ou no supermercado e os pais, super envergonhados, desculpam-se: «Ele não costuma ser assim, não sei o que lhe deu». Não estou a falar de bebés, mas sim daquelas criancinhas que já sabem falar e gritam bem alto para que todos o oiçam: «NÃO QUERO», ou então «QUERO ISTO».

A mãe ou o pai, a meia voz, dizem: «Frederico, agora não posso, mas a mãe depois compra». E ele responde prontamente: «Mas eu quero já!» E a verdade é que, para a criancinha se calar, a mãe compra.

Há dias num restaurante, na mesa ao lado da minha, estava a um casal com o seu filho que deveria ter uns quatro ou cinco anos. A criança, insistentemente, dizia: «Não tenho fome, quero ir embora». O pai respondia: «Se não queres comer, espera que acabemos a refeição que vamos já». E ele: «Mas eu quero ir embora já. E ia levantando a voz.

Às tantas, a senhora que devia ser a mãe disse: «O melhor é pedirmos já a conta, porque ele não se cala». E o pai responde: «Já que viemos, quero acabar, ele que grite, mas vai ter que esperar». E a criança começou mesmo a gritar. Conclusão? Pediram a conta à pressa e a mãe saiu primeiro com ele para que o menino deixasse de fazer a birrinha.

PRIMEIRO ERRO: a família falar a duas vozes. O pai dá uma ordem e a mãe enfraquece essa ordem, ou vice-versa.

Tenho defendido que a educação vem de pequenino e se não conseguirmos educar os nossos filhos com regras e valores, dificilmente estaremos a contribuir para que eles venham a ser adultos bem formados. Quando falamos em regras e valores, não são coisas ultrapassadas, antes pelo contrário, são valores de respeito pelos outros e por si próprios, são valores de cidadania, de amor, independentemente do estrato social.

Ninguém respeita o outro se não se respeitar a si próprio. E em pequenos temos mais facilidade de aprender.

Eu sei, o seu filho ou filha têm uma personalidade muito forte e é por isso que não aceitam bem as ordens, que gritam quando querem uma coisa, porque são muito determinados… Pode ser.

Nós somos responsáveis pela educação dos nossos filhos e uma das nossas funções é prepará-los para a vida em sociedade, porque um dia – e chega mais cedo do que às vezes desejamos – eles ganham asas e deixam de ser nossos. A nossa missão é formá-los a serem adultos bem formados.

E todos aqueles adultos que conhecemos e admiramos e dizemos «é uma pessoa muito educada e bem formada» também é filho. Olhar para ele como pais e pensar: «Fizemos um bom trabalho». E tão orgulhosas que ficamos.

Como especialista em protocolo e etiqueta, não tenho pretensões a mudar estilos de vida ou educação, gosto apenas de transmitir um pouco daquilo que estudei, aprendi e também vivenciado empiricamente, como filha e como mãe. Aproveita a quem quiser e a quem puder, como tudo na vida, não é assim?

A condenação da sociedade

Pois é, o problema é que eles fazem-nos passar tantas vergonhas e quando a sociedade olha para nós com o dedo apontado, sem o dizer, nós sentimos como uma farpa «mas que miúdo mal educado». E nós sabemos que não é verdade, sabe Deus o que eu me esforço, dando-lhe tanta atenção, quando chego cansada a casa, depois daquele dia que foi um inferno no emprego. E o tempo, esse maroto que é tão pouco para tanta coisa e depois falta-nos a paciência para impor algumas regras básicas de educação que perduram e são ou devem ser transversais a todas as gerações. Vacilamos, permitimos, não nos impomos e depois mais tarde…

Mas, às vezes, nem é preciso perder tempo nenhum com isso… é só pensarmos que as crianças costumam e gostam de imitar os adultos.

As melhores dicas

Ensinar a dizer bom dia, quando chega à escola, quando entra connosco no café, na casa dos tios. Nós dizemos, o mais certo é eles dizerem… Nós não dizemos, eles também não dizem.

Dizer «obrigado» quando lhe servem o café, quando lhe abrem a porta do elevador, quando o seu filho lhe traz a sua mala que pediu e que está em cima da cadeira. Não? Então não espere que ele agradeça aos colegas, à professora, aos avós e aos pais.

Quando chega a casa e está há uma hora ao telefone com alguém e ele pede atenção, manda esperar e não lhe liga? Depois repreende e diz que é uma falta de educação interromper? Pois então não se admire se o seu filho estiver a ver um programa preferido e quiser que ele interrompa e oiça a resposta «mamã, agora não posso».

Claro que é falta de educação e de respeito interromper o outro e isso tem de ser transmitido ao nosso filho, mas com bom senso e moderação, nunca quando estamos há uma hora ao telefone.

É verdade que as crianças nem sempre têm razão, mas os adultos também não. É verdade que as crianças mal educadas, vão ser de certeza também adultos mal educados e mal formados.

A ideia deste artigo não é educar crianças, muito menos os pais. É ter a ambição despretensiosa, de que podemos parar um pouco para pensar no trabalho. Juntos podemos fazer muito para tornar uma sociedade mais sociável com futuros homens e mulheres responsáveis, que se amem respeitem a si e aos outros.

Texto: Fernanda António

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