Explicar a morte a uma criança não é nada fácil. Mas será que esconder a realidade é a melhor solução? E deverão os filhos ir ao funeral da própria mãe ou pai? O site Crescer entrevistou a psicóloga Teresa Paula Marques.
São muitos os crimes em Portugal e além-fronteiras que chocam o mundo e deixam famílias destruídas. Ficar órfão de pai ou mãe é das maiores crueldades que uma criança pode sentir.
Depois de uma tragédia, o acompanhamento da própria família é fundamental para a psicóloga clínica Teresa Paula Marques, que protagonizou o programa «Supernanny», da SIC. Porém, não há uma maneira simples de contar o que aconteceu. «Nunca devemos ocultar a verdade às crianças. Os mais pequeninos ainda não percebem, mas os mais velhos que já andam na escola e sabem ler, acabarão por saber e ouvir algo que os pode confundir e magoar. Claro que devemos falar com o máximo cuidado e com as palavras adequadas à idade», começa por dizer.
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«É importante apoiá-los ao máximo e contar a verdade, se já tiver idade para perceber. Deverá ser alguém da sua confiança, alguém muito próximo, tendo em conta que o pai não estará em condições de o fazer. Deve ser dito que um homem doente fez uma grande maldade à mãe sem explicação. A mais nova não tem que saber pormenores… Mas é importante explicar que a mãe morrer, falar da morte, fazer alusão a uma flor que murchou, ou a um animal de estimação que faleceu…»
Uma criança pequena, segundo Teresa Paula Marques explica, deverá fazer menos perguntas, mas o luto é inevitável. «Apesar de não perceber o que aconteceu, sabe que a mãe não está nem vai estar. Vai chorar muito, vai sentir a ausência dela. E aqui o apoio é fundamental para não haver sequelas futuras.»
Não estando o pai capaz de falar com os filhos, é necessário haver ajuda profissional, até porque toda a família está em choque com a morte de um ente querido, independentemente da forma como faleceu.
«A família deverá falar com professores, educadores e colegas para que todos estejam dentro do assunto e possam acompanhar o dia-a-dia com algum cuidado. A imaturidade das crianças que já têm idade para perceber estes acontecimentos podem torná-las cruéis e dizerem coisas que não devem», alerta.
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As crianças devem ir ao funeral?
São poucas as pessoas que permitem a presença dos mais novos em funerais. Quase nunca vemos os filhos de alguém que acaba de falecer. Mas isso é um erro para Teresa Paula Marques. «Apesar de ser um ambiente pesado, um funeral é a realidade. Pelo menos os mais velhos deveriam estar presentes. Muitas vezes não preparamos as crianças para a realidade, tal e qual ela é. Claro que não precisam de ver tudo, mas é importante estar presente naquele que será o último adeus, onde a família está toda unida na dor. Não devemos proteger as crianças de tudo. Ver o fim, por vezes, também é necessário…», refere a psicóloga clínica.