Gravidez

Parto na água em hospitais públicos: para quando?

Redação
publicado há 6 anos
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Mães d’Água – Movimento cívico pelo parto na água em Portugal, lançaram, em parceria com a Waterbirth International, uma campanha de crowdfunding chamada Mudar o SNS – Uma piscina de cada vez, para aquisição de uma piscina de parto (e acessórios) a ser entregue a um hospital do Serviço Nacional de Saúde, a qual já se encontra no Centro Hospitalar Póvoa do Varzim, Vila do Conde. De referir que este hospital público vai iniciar um projeto de hidroterapia para que todas as mulheres que o desejem, possam usufruir da água e dos seus benefícios durante o trabalho de parto.

Segundo refere o movimento As Mães d’Água, “esta foi uma proposta feita na visita em março de 2016, altura em que foi possível conhecer de perto o trabalho em curso no serviço de obstetrícia do CHPVVC e confirmar os relatos positivos que as mulheres nos faziam chegar. Mas os compromissos fazem-se a dois e o CHPVVC abraçou esta proposta com tanto entusiasmo e empenho como nós.”

Desde esse primeiro encontro fizeram a Formação de Parto na Água com Barbara Harper, continuaram o seu trabalho para partos mais humanizados, começaram a preparar o espaço para receber a piscina, e a relação de confiança fortaleceu-se.

“Iniciámos esta campanha com a convicção de que se queremos a mudança temos de fazer parte dela. E sabíamos que não estávamos sozinhas. Aquilo que não sabíamos era a extraordinária adesão que iríamos ter. Em apenas 48 horas já tínhamos angariado 300€ e seis dias antes do final da campanha alcançámos os 100% do valor necessário! Concluímos no dia 22 de Maio com 2051€, graças ao contributo de 96 doações. Esta adesão confirma algo que já suspeitávamos, pelos inúmeros contactos a pedir informação sobre parto na água que nos chegam através do nosso site e facebook: há muitas mulheres e famílias portuguesas que querem esta opção de parto. Esta campanha foi para uma piscina. Esperamos que seja a primeira de muitas. Foi o nosso contributo para a mudança, e esperamos assim inspirar muitos mais hospitais portugueses a criarem condições para que o Parto na Água volte a ser uma opção disponível no Serviço Nacional de Saúde.”

Benefícios do uso da imersão em água durante o trabalho de parto e parto na água:

  • Facilita a mobilidade e permite à mulher assumir a posição que for mais confortável para o seu trabalho de parto e parto;
  • Acelera o trabalho de parto;
  • Dá à mãe o sentido de controle sobre o seu parto e ajuda-a a gerir a energia;
  • Alivia consideravelmente a dor e promove o relaxamento;
  • Reduz a necessidade de recurso a fármacos e intervenções;
  • Cria para a mãe um espaço de privacidade e proteção;
  • Reduz a pressão arterial, reduz os riscos de lesão do períneo, elimina as episiotomias,
    e reduz a taxa de cesarianas;
  • Tem índices de satisfação altos por parte das mães – a maioria afirmando que gostaria de repetir a experiência de parir na água;
  • Altos índices de satisfação/ comprovação de eficácia por profissionais de assistência ao parto experientes;
  • Proporciona um parto mais fácil para a mãe e um nascimento mais suave para o bebé.

Efeito analgésico da água

Uma piscina numa sala de parto muda imediatamente a atmosfera. As vozes são mais suaves, a mãe fica mais calma e toda a gente menos stressada. A possibilidade de flutuar, de não ter peso, que a imersão na água cria, permite a movimentação livre da mãe. Ninguém tem de ajudar a mulher a mudar de posição. Ela move-se segundo lhe dita o seu corpo e a posição do bebé. O movimento ajuda a abrir a pélvis, permitindo a descida do bebé. Quando uma mulher em trabalho de parto descontrai num banho quente, livre do peso do efeito da gravidade no seu corpo e com os estímulos sensoriais reduzidos, é menos provável que o seu corpo produza hormonas de stress. Isto permite que o corpo produza as endorfinas que inibem a dor e complementam o trabalho de parto.

Noradrenalina e catecholaminas, as hormonas que são libertadas numa situação de stress, aumentam a pressão arterial e podem aliás interromper ou tornar mais lento o desenrolar do trabalho de parto. Uma mulher em trabalho de parto que consegue descontrair fisicamente e psicologicamente também. Muitas mulheres, parteiras e médicos reconhecem o efeito analgésico da água.

Milhares destas mulheres afirmam que não seriam capazes de considerar parir de novo, sem água.

Porque não há partos na água nos hospitais em Portugal?

Recentemente conseguimos a presença de Barbara Harper (especialista em parto na água e fundadora da Waterbirth International) em Portugal e com ela a certificação em parto na água de mais de 50 profissionais de saúde. Neste momento, vários hospitais se mostram mais abertos do que nunca para este tipo de parto, e há até três que possuem já piscinas de parto – acreditamos que a mudança está próxima!
Para além do SNS o parto na água existe em Portugal, em hospital privado, clínica privada e no parto domiciliar.

 

O bebé não se afoga? O que permite que seja seguro ter o bebé debaixo de água?

Há quatro fatores principais que impedem um bebé de inalar água durante o nascimento:

1. Os níveis de prostaglandina E2 da placenta que provocam o abrandar ou parar dos movimentos respiratórios fetais. Quando o bebé nasce e os níveis de prostaglandina ainda estão altos, os músculos respiratórios do bebé pura e simplesmente não trabalham, impedindo assim a primeira resposta inibitiva.

2. Todos os bebés nascem com uma ligeira hipoxia ou falta de oxigénio. A hipoxia causa apneia e impulso de engolir, não de respirar ou suspirar.

3. Os pulmões do bebé ainda estão cheios de líquido. Esse líquido existe para proteger os pulmões, e mantêm o espaço aberto para trocar dióxido de carbono por oxigénio. É muito difícil, até mesmo improvável, que os fluídos da banheira de parto passem nesses espaços que já estão cheios de fluído. Um fisiologista declarou que “a viscosidade natural do fluído que corre nos pulmões é tão espesso que seria praticamente impossível que quaisquer outros fluídos entrem”.

4. O último importante fator inibidor é o “Dive Reflex” (reflexo de mergulho), e está relacionado com a laringe. A laringe está completamente coberta por quimiorrecetores ou papilas gustativas. A laringe tem cinco vezes mais papilas gustativas do que a superfície inteira da língua. Portanto, quando uma substância chega ao fundo da garganta, passando pela laringe, as papilas gustativas interpretam de que substância se trata e a glote fecha-se automaticamente, fazendo com que a substância seja engolida, e não inalada.

Qual a temperatura da água?

Deve ser mantida a uma temperatura que seja confortável para a mãe, normalmente entre 32-37,5 graus, não devendo exceder os 38 graus, já que levaria a um aumento da temperatura corporal da mãe o que causaria um aumento do ritmo cardíaco do bebé. É importante ter bastante água para beber e toalhas frias para a cara e o pescoço da mãe. Um spray de água facial pode ser um alívio que algumas mães agradecem.

Quanto tempo é que o bebé deve permanecer dentro de água depois de nascer?

Em Portugal, no exemplo do parto na água no HBS a prática era de trazer o bebé para fora da água alguns segundos depois de nascer (nos Estados Unidos também é assim). Não há nenhuma razão fisiológica para deixar o bebé dentro de água durante um período de tempo específico. A opção segura é remover o bebé, sem pressa, e colocá-lo suavemente no peito da mãe.

Quando é que a grávida deve entrar na água?

Se a mãe escolher entrar dentro de água no início do trabalho de parto, antes das suas contrações serem fortes e seguidas, a água pode relaxá-la ao ponto de abrandar ou até mesmo parar o trabalho de parto. Por isso, alguns profissionais limitam o uso da piscina até que alguns padrões de parto estejam estabelecidos e haja uma dilatação de pelo menos cinco centímetros.

Há dados fisiológicos que confirmam esta regra, mas cada situação deve ser avaliada separadamente. Algumas mães sentem que um banho no início do trabalho de parto é útil para as acalmar e para determinar se o trabalho de parto já começou efetivamente.

Se as contrações são fortes e regulares, independentemente da dilatação, um banho pode ser necessário para ajudar a mãe a relaxar o suficiente e facilitar a dilatação. Como tal, tem sido sugerido que o banho seja feito numa “água de teste” durante pelo menos uma hora e permitir que a mãe avalie a sua eficácia. As parteiras relatam que algumas mulheres conseguem ir de um centímetro até à dilatação completa durante a primeira ou segunda hora dentro de água. A primeira hora de relaxamento dentro de água é normalmente a melhor, e pode muitas vezes ajudar a mulher a alcançar rapidamente a dilatação completa.

Quem são as Mães d’Água?

Um movimento cívico movido pela paixão pelo parto na água. O grupo foi criado em junho de 2014 e trabalham desde então em três missões:

  • Criar mudança efetiva no Sistema Nacional de Saúde Português trazendo de volta o parto na água aos hospitais públicos;
  • Inspirar e empoderar a mulher;
  • Promover o parto natural/na água.

Saiba mais aqui.

O que é a WaterBirth International?

É um movimento internacional dedicado ao parto na água que começou em 1988, em Santa Barbara, Califórnia, por um grupo de mulheres e homens que queriam “garantir que a água seria uma opção disponível para todas as mulheres”. Com um início humilde, a partir da sala de jantar de Barbara Harper e Harry Kislevitzo, concretiza a sua missão através de programas destinados a educar os pais e profissionais para um modelo de nascimento gentil de maternidade. O Waterbirth International tem sido e continua a ser uma voz activa em busca de formas mais suaves, mais gentis e mais fáceis de acolher bebés no mundo.
Saiba mais aqui.

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