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«Já tem dois filhos de pais diferentes, não devia ter mais nenhum»

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publicado há 6 anos
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Catarina Beato, autora do blogue Dias de uma Princesa, tem três filhos de pais diferentes e é uma mulher feliz. É isso que importa numa família. Leia o seu testemunho, depois da crítica que recebeu antes de nascer a terceira filha.

 

Quando publiquei a crónica da semana passada recebi um comentário que dizia: «A Catarina já tem dois filhos de pais diferentes, não devia ter mais nenhum». Li várias vezes e, na verdade, a expressão «já tem dois filhos de pais diferentes» soa bastante mal. Assumo: eu também já tive vergonha de dizer que tenho dois filhos de pais diferentes.

Quando fui mãe do Gonçalo e o projeto de vida com o pai dele não resultou pensei que nunca seria capaz de ter outro filho. Apesar de a nossa relação sempre ter sido pacífica — até quando terminou, e apesar de sermos os melhores amigos, a ideia de ter outro filho, de outro pai, fazia-me impressão.

Passaram muitos anos até ter ficado grávida do meu filho pequeno. Apesar do contexto não ser o mais fácil, apesar de todas as dúvidas, foi uma decisão consciente e muito, muito, muito feliz.

O Gonçalo não tolera que digam que tem um «meio irmão», zanga-se mesmo. Os meus filhos são irmãos por inteiro apesar de terem pais diferentes. No dia da sua festa de anos, o Gonçalo teve consigo os seus dois irmãos, da parte da mãe e da parte do pai. Não há ligação de sangue entre estes dois meninos, não crescerão juntos, mas terão contacto, saberão quem são, serão irmãos do Gonçalo na plenitude que escolherem para a sua relação.

Se gosto de dizer que tenho filhos de pais diferentes? Assim, até parece mal, com os preconceitos a fazerem soar buzinas estridentes na minha cabeça. Sim, tenho dois filhos, cada um tem o seu pai. E são uns sortudos por terem, cada um, o melhor pai do mundo e o pai do irmão que também gosta deles.

Podem vir as leis que permitem novas famílias, novas formas de ser mãe e pai, com a justiça urgente de que ter filhos não é sangue, é criar com amor. Mas é também preciso que os preconceitos terminem, que não julguemos, que não tenhamos medos nem vergonhas. Casei com um homem que não é nenhum dos pais dos meus filhos.

Casei com um homem que ama os meus filhos, mas não é pai deles. São uns sortudos porque têm uma família cada vez maior, cheia de ramificações que formam um ninho gigante, ou uma rede para o trapézio da vida quando precisarem dela. Se um dia tiver um terceiro filho, de um terceiro pai, serei apenas a mulher mais feliz do mundo, e eles apenas irmãos.

 

 

 

Texto: Catarina Beato, autora do blogue Dias de uma Princesa, escrito em 2015
Hoje, a autora vive feliz com três filhos, de três pais diferentes

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