Histórias Inspiradoras

Histórias Inspiradoras: Iniciativa de mãe e filha traz nova esperança a quem perde bebés

Filipa Rosa
publicado há 6 anos
0
Share on FacebookTweet about this on TwitterShare on LinkedIn

Ana Lino tem três filhos, mas conhece bem a dor do aborto. Depois de perder o segundo bebé, a filha, Catarina, de 10 anos, ofereceu-lhe uma pulseira. O ato de carinho já se propagou pelo país. A Crescer conta-lhe toda a história.

Foi em 2015 que Ana Lino decidiu lançar uma iniciativa solidária para ajudar mães que perdem os seus bebés durante a gestação.  A sua inspiração foi a filha mais nova, Catarina, de 10 anos, que, com um gesto tão simples, tem conseguido trazer esperança a muita gente: enviar uma pulseira com uma carta a todas as mães que perdem bebés.

A ideia surgiu depois de Ana sofrer dois abortos em dois anos. «Já era mãe de dois filhos. Tentei engravidar do terceiro e… só consegui trazer ao mundo o Simão à terceira! Sofri dois abortos de forma espontânea. O primeiro com 13 semanas e o segundo com oito», relata.

Ana optou por sofrer sozinha, com o marido, no primeiro aborto. A segunda vez foi diferente. «Decidi contar aos meus filhos o que se estava a passar. Não ocultei nada, mas tive cuidado com as palavras. Eles devem perceber que nem tudo corre na perfeição e que estas coisas acontecem… Foi muito importante falarmos do assunto em família. No início a Catarina fez imensas perguntas, quis saber porquê, onde é que o irmão tinha ficado… Não percebia por que ia visitar o avô ao cemitério e o irmão não…» As questões sem respostas levaram Ana Lino a decidir abrir o coração aos filhos. Apesar de Rodrigo ser mais velho e reservado, mereciam ambos respostas às inúmeras dúvidas. «Os miúdos são muito genuínos e acabam por ajudar neste processo. Fez-me bem falar sobre o assunto, com algum cuidado, claro», conta.

Catarina, mais nova quatro anos do que Rodrigo, de 14, foi o seu grande apoio. «Na escola fazia pulseiras muito originais e, nessa altura, fez-me uma especial. Cada missanga representava um elemento da família, e uma delas simbolizava o mano que perdeu. Fiquei muito sensibilizada com aquela atitude. Fez todo o sentido para mim, esta pulseira tem muito importância e significado», recorda Ana.

A partir daí, Catarina nunca mais parou. Era inevitável ajudar outras mães que também estivessem a ultrapassar o duro processo do luto de perder um filho. Juntas abraçaram um projeto que já ajudou dezenas de mães através da página de Facebook chamada Ser Arco-Íris – Perda Gestacional. Cada pulseira é bastante colorida e chega por correio acompanhada por uma carta com uma mensagem de força e esperança, escrita por Ana. A razão das cores? «Espalhar amor e esperança… Os bebés que nascem depois de outros terem morrido são encarados como Bebés Arco-Íris pela força que dão às mães, uma nova esperança para voltarem a tentar engravidar e realizarem um sonho.»

A importância das cartas

Ana Lino coloca um pouco de si em cada carta que escreve. «É muito difícil falar deste assunto. E através das cartas, eu tento dar alguma esperança através de mensagens de amor, sem sequer saber para quem estou a enviar. Coloco-me no lugar delas, porque sei o que estão a passar. Dou alguns conselhos, incentivo a falarem e a expressarem o que sente com outras mulheres… Partilhar experiências é fundamental.»

É esta a grande missão de Ana Lino: dar força através de cartas escritas por si, cada uma acompanhada por uma pulseira. «A mulher deve pedir ajuda nestas situações, porque ninguém deve sofrer na solidão. Há tantas gente a passar pelo mesmo, infelizmente. As mulheres sofrem imenso sozinhas, quase por opção. Há quem tenha vergonha de falar, não tenha coragem ou precise de algum incentivo…»

 

A dor de perder um filho

Perder um filho é uma realidade dura que nenhuma mulher merece conhecer. Ana Lino sabe bem o que isso é, mas conseguiu ultrapassar dois processos de luto, com a ajuda da família. «Quando se perde um filho não há palavras que descrevam o que sentimos. É uma fase difícil de passar. Há muitas depressões, o que depois leva à dificuldade de voltar a engravidar. Fazer o luto é fundamental. A mulher tem direito a estar um mês em casa. Mas é importante que não se deixe deprimir e entrar num poço sem fundo», explica.

Apesar de ter conseguido dar a volta por cima, Ana recorda as muitas lágrimas que não conseguiu segurar. «Para mim foi muito importante fazer o luto. Chorei bastante… Refleti, falei, desabafei. Mas ainda há muita insensibilidade. Ouvi algumas pessoas dizerem: ‘Isso passa, és nova… Rapidamente engravidas outra vez.’ Como se fosse fácil. Nem sempre é.»

No processo de luto da mulher, nem sempre se pensa no sofrimento do marido. Também ele perdeu um filho. Para Ana Lino, o diálogo entre o casal é fundamental. «Há muitos homens que têm mais dificuldade em expressar-se. Há que falar do assunto, procurar ajuda… Apoiarem-se um ao outro!», recomenda.

O diálogo com os filhos também deve ser prioridade para os pais. «Cada um vive o processo à sua maneira. A Catarina fazia tantas perguntas! O Rodrigo é mais caladinho, mais reservado, é rapaz… mas ficou triste. Isto não mexe só connosco, mexe com todos nós!»

Os sete estados do aborto

sete estados que a maioria das mulheres que sofrem um aborto ultrapassa:

  • Dor
  • Medo
  • Culpa
  • Tristeza
  • Vergonha
  • Perdão
  • Esperança

A dor e o medo surgem assim que se perde um filho. O sentimento de culpa surge para tentar justificar a perda (culpa de não se cuidarem, de terem feito algo de errado). A tristeza profunda é dos estados mais graves, que muitas vezes leva à depressão. «Há que trabalhá-la, expressá-la!», sublinha Ana. A vergonha é inevitável. Nunca ninguém está à espera de uma situação destas. O perdão vai ajudar a ultrapassar todo o processo até atingir a esperança de uma nova gravidez.

Hoje Ana Lino é mãe de Simão, de sete meses, que se veio juntar a Rodrigo, de 14, e Catarina, de 10. «Somos uma família feliz, apesar de já termos passado por muito. Mas a minha força interior ajudou-me a dar a volta por cima e é isso que quero transmitir com este projeto. Muita força para as mulheres que passaram pelo mesmo… Há que acreditar que o dia de amanhã será melhor!»

Siga a Crescer no Instagram

Share on FacebookTweet about this on TwitterShare on LinkedIn

Artigos relacionados

Últimas

Botão calendário

Agenda

Consultar agenda