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«Como explicar a um bebé que as irmãs da parte do pai não podem viver sempre connosco?»

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publicado há 6 anos
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Chamo-me Catarina, sou educadora e professora de primeiro ciclo. Amiga dos seus amigos, sem papas na língua, rebelde q.b. Apaixonei-me por um colega professor com quem trabalhava na altura. Esse colega trabalhava na mesma escola, era divorciado, tinha 13 anos a mais e trazia um bónus com ele: duas filhas. Tinha tudo o que era preciso para não dar certo… mas deu. Passados seis meses vivíamos juntos. Passados três anos demos um mano às manas. E aqui estamos nós, uma família não convencional, mas feliz.

Num dos textos que escrevi no blogue O nosso, as dele e os dos outros abordei a questão da guarda partilhada. Leia aqui:

Tinha medo que este dia chegasse… e chegou.

Sempre senti muito medo do facto do Gustavo ter duas irmãs que vivem em custódia partilhada somente por esta questão: e quando elas não estiverem? E como explicar que elas vão para a mãe? Ele há-de pensar: «Vão para a mãe?! Mas a mãe és tu.»

Sempre me foram tranquilizando dizendo que ele vive essa realidade desde o nascimento e que não havia de lhe fazer confusão. Eu também comecei a pensar assim, fazia sentido.

Eu só não esperava que ele começasse a querer saber das manas quando ainda não lhe consigo explicar, porque não fala. Eu até lhe explico, falo com ele de tudo, mas ele fica a olhar para mim com cara de parvo.

Quando chega o dia das manas irem para a mãe, depois de terem estado aqui uma semana, o Gustavo acorda e vai a correr para a cama delas a chamar: «Mmaaannnaaaaa, ooh mannnaaa. Biiiiiii». Ele chama mana à Matilde e Bii à Gabriela. Nós explicamos que as manas não estão cá e ele de olhos arregalados diz. «Num há cá!» E por momentos passa.

Por vezes quando está a fazer uma das suas gracinhas, como dançar, chama as manas para o virem ver. Mas elas não estão. Outras vezes quando come a sopa toda e quer mostrar às manas que foi lindo, chama as manas. Mas elas não estão.

Ele tem um telefone de brincar e volta e meia dou por ele a falar ao telefone, a palrar, e lá vai dizendo «mana» e «Bi» pelo meio. Outras vezes vai mesmo buscar o telefone do pai e pede para falar com as manas. E fala. Fica numa excitação quando ouve a voz delas.

Esta semana pela primeira vez foi mais difícil. Quando entrávamos no carro começava a chamar pelas manas a pedir para ir ter com elas. Fomos às compras e passou o tempo todo pelos corredores a apontar e a chamar por elas. Ontem à noite foi o pior. Pediu para falar com as manas e o Zé ligou-lhes. Elas não atenderam. O Gustavo chorou, chorou muito a chamar por elas, e eu depois de noite também chorei e tentei pensar como iria ser daqui para a frente. Mas não consegui pensar em nada de jeito e sinceramente sinto-me um pouco perdida.

Pela primeira vez não consigo mesmo ajudar o meu filho e não sei o que fazer para minimizar a falta que as irmãs lhe fazem.

 

 

 

Texto: Catarina Garcia no blogue O nosso, as dele e os dos outros

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